Não quis, meu visconde, a sorte,
Que para
mim nunca presta,
Que eu comesse peru gordo
Sem ser em dia de festa.
O seu convite a trinchá-lo
Recebi quase ao sol posto,
Quando para casa entrava
Cheio de afã e desgosto.
Sendo já passada a hora
D’ir à pitança excelente,
Na caseira carne magra
Meti sem vontade o dente.
Não pude engolir bocado
Da costumeira panela,
Tendo o peru não comido
Atravessado na goela.
Moniz Barreto
Guilherme Joaquim de Moniz Barreto (Goa, Índia Portuguesa, 1863 — Paris, 1896), mais conhecido por Moniz Barreto, foi um jornalista e crítico literário que se destacou por ser dos poucos ensaístas portugueses que tentou uma via científica na crítica literária e uma abordagem positivista ao estudo da literatura portuguesa. Apesar de ter falecido precocemente, com apenas 33 anos de idade, foi um dos críticos literários mais argutos e interessantes de finais doséculo XIX, observador atento do panorama cultural e da literatura portuguesa do seu tempo e dos decénios precedentes, introduzindo na lusofonia a crítica literária objectiva (científica), na linha do determinismo de Hippolyte Taine.
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